domingo, 22 de abril de 2012

Mais que um diário.


Mensagem recebida.
Janita – the naked souls – sleep vejo vezes sem conta que não aguento com tamanha emoção.
Sorrio. Lembro.me do vídeo, tranposto.me para aquela altura. Era verão. Acho eu. Ou serão as  minhas memórias que sempre são transpostas para o verão. Lembro.me do vídeo, lembro.me do final. No final até voas, lembro.me de lhe mostrar a música sentados no balcão da minha sala grande. Espera, espera, é agora, e chega o auge. Até voas. Ena Nuno isto é muito forte.
Mensagem recebida
Janita A partir dos 4;51 perco-me
Oiço de novo, 4:51 e perco.me também. Semana de férias. Decido que o Post se chamará Post. Muito mais que um diário, muito menos que uma rádio. Viagem a Lisboa com percussões de Indonésia em mente. Há muito que queria experimentar.
Antes de sair estaria em Itália um jovem de 25 anos a preparar-se para mais um jogo. Um jogo de futebol. Correr até mesmo quando o coração para. É uma imagem fortíssima. Não queria ver. Perdoa-me por ter visto. Mais tarde o Pedro avisa.me. Morreu em campo. Não quero ver as imagens. Não quero. Não quero. Não queria. Não queria. Não queria nada ver. Perdoa-me por ter visto o teu ultimo fôlego, a tua ultima luta. Mesmo com o teu coração a morrer aos poucos não desiste de correr. Será esta a imagem do atleta moderno. A velha imagem grega de contemplação pelo corpo troca-se hoje em dia pela cada vez mais usual imagem da luta em campo contra a própria vida. O coração para eu continuo a correr, até que as pernas não sintam mais o estimulo. Perdoa.me por ter visto o teu último fôlego. Que agora descanses em paz. Perdoa.me mesmo que nunca te tenha ouvido falar. Perdoa.me mesmo que nunca tenha ouvido falar de ti. Perdoa-me por ter-te visto apenas e só na tua ultima grande luta. A ultima grande Victoria frações de segundo antes da tua ultima e triste derrota.
Perdoa.me mama por não estar aí. Perdoa-me as lágrimas que choras pela minha ausência. Perdoa-me não ter ficado um dia mais, umas horas, nem tinham que ser 24 horas. Perdoa-me estar longe nos dias que mais querias que estivesse perto. Perdoa-me, não fiz por mal, queríamos todos estar aí. Queríamos mesmo do fundo do coração. Perdoa-me mama. Parabéns. Que para o ano te façamos uma festa e que as lágrimas sejam sorrisos, gargalhadas, brindes com champanhe com rótulo francês. Uma sala espaçosa colorida com flores. E que a tua neta esteja ao teu colo ou a correr atrás de ti. Perdoa.me. Perdoa-me mama. Não fiz por mal.
Mal de nós que não sintamos amor. Isso sim é um problema. Mal de nós que não nos riamos com os nossos nomes. Mal de nós que não choremos os dois quando te conto as minhas memórias mais pessoais e tristes. Mal de nós que não nos abracemos quando entra um golo. Mal de nós que não nos abracemos e que não estejamos ao lado um do outro quando mais necessitamos. Um teatro sobre caracóis. Os três. Eu Tu e ela. Apenas nós. Um pequeno almoço a correr num sitio que gostava de visitar mais vezes. Um amigo antigo perdido numa tribo. Um caracol solto num palco. Ela é linda quando fica séria a olhar as luzes. Eu e Tu a olhar para ela. Mais que o palco. Quem luz aqui é ela e nós somos ela. E nós somos isso mesmo. Mal de nos que não haja amor.
A partir dos 4:51 perco.me
Lembro.me do calor de Alcobaça nessa altura. Tudo começava, sentia amor pela vida. Queria dormir menos e viver mais. Jogava basket e ouvia a mesma cassete dos cure vezes sem conta. Mergulhávamos nas piscinas uns dos outros e falávamos de música. Os cure sempre lá estavam. Numa dessas tardes morreu alguém. foi em frente com o seu carro. Mas isso agora não é importante. O importante é que o minuto 4:51 está a chegar. Perco.me. . .