domingo, 6 de dezembro de 2009

o que é ser feliz?


nem são as compras que fiz no supermercado com corredores largos e luz certa e rucula com dez dias de consumo, nem os mil queijos que comprei, e a árvore de natal que amas e eu amo que ames o natal. tudo isso me faz feliz. ouvir o meu futuro e deixar-me levar por aquilo que sinto que é ser feliz. sou feliz. aqui e agora no meu carro, com vontade de chegar a casa. . . . no meio da rotunda, espera o autocarro que chega sempre tarde. apanhei muitos autocarros. é um exercicio de paciência. há sempre algo que o atrasa, ou nós que chegamos sempre no meio das passagens. estava feliz. olhei a rotunda que escondia uma paragem. ali estava ela, sem nome, sem rasgo nos olhos. parada. sentada. à espera. ela e a cadeira de rodas e mais mil utensilios que a permitem viver. ela e o olhar triste de quem não sabe o que é ser feliz. e parece que o tempo parou ali. em camara lenta, daquelas com maior definição ainda. mais lento. mais definido ainda. ela e o seu olhar triste. e a sua vida triste. e eu sem nada para dar, semm nada para oferecer, se um dia tiver que oferecer algo jamais entregarei a minha felicidade. é egoísta isso? não consegui fazer mais nada que soltar uma série de lágrimas, não queria ter visto naquele preciso momento que existe por aí pessoas tão tristes. Ontem a mesma rotunda, repirar fundo, estava vazia. menos vazia do que aquela vez com a menina na cadeira que a permite respirar, mover-se mas que infelizmente ainda não dá para ser feliz. penso eu que não será feliz. o que é ser feliz para mim é diferente para ti por certo. madrid continua a dizer-me todos os dias que aqui sou feliz. madrid diz-me ao ouvido, fica comigo uma vez mais... ser feliz é uma virtude, aquilo que mais quero ser é ser feliz. e ser feliz hoje é apenas e só estar aqui.

o que é ser a minha casa?


ser feliz e sentir-me em casa é chegar ao mosteiro. sempre foi. uma emoção dificil de explicar. dificil de conceber. dificil de manter viva. são pedras. são sinos. é uma vista. são memórias. mas é sempre passado. as saudades que tenho do mosteiro. mais do que o quarto ou a cozinha, ou o comando da sala com lareira acesa, invariavelmente com fumo indesejado a rumar paredes fora... as saudades daquilo que me diz donde venho. sinos ou não. sina a minha de querer sempre voltar ali. em frente. as memórias são com jardins ao lado, bancos de jardim, os primeiros desejos, os primeiros cigarros que sempre recusei fumar, os primeiros esboços de uma banda, os primeiros traços de personalidade. o estilo. o grupo. o ser feliz com amigos da nossa idade. o mosteiro é tudo aquilo que representa. e o que é isso então - é não responder. é passar pela justificação. é algo meu. e eu não quero que saibam coisas minhas. o meu mosteiro é partilhado contigo, com ela, com ele, com todos. é nosso. é meu. é meu. e meu é ser de quem sabe o que é rever a sua envergadura depois de meses sem estar perto. Madrid - saio de carro. seis da tarde. o sol esconde-se ao fundo. ali ao meu lado estaõ 3 torres. altas. mais altas que o céu. mais imponentes que o amor de quem as desenhou. ali está o homem de hoje, ali estou eu. hoje tenho tambem saudades das torres de madrid. avião a chegar, olhar o cume da cidade. depois dos parques e da arquitectura e da história e dos museus e das noites sem dormir e de tudo o que madrid representa - olho as torres e sinto-me em casa. esta já é a minha casa, sou eu. és tu. somos nós. madrid está longe de me dar um mosteiro, de me dar aquilo que não se explica, a vida burguesa que só quem habita por lá conhece, está longe dos sinos, longe da mulher que mais amo depois de ti e do homem mais forte do mundo que me educou da melhor forma possivel, está longe de quem morreu, está longe do meu passado e dos meus primeiros sonhos e do sotão do miguel e do estudio que gravei aquilo que sou hoje, está longe. mas mesmo assim é aquilo que eu chamo casa. a minha casa é esta. esta tambem é a minha casa, esta tambem é aquilo que não se explica. eu. tu. nós.