terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

tinhas razão andré. . .

be good.
todo este céu. todo esse céu. saio de casa sem querer muito sair. faço o jantar ou vou à farmácia. estou farto de estar em casa. escolho farmácia. recebo mensagem ao entrar no elevador. israel - o pai do andré morreu. entro no elevador. olho em frente. respira-se o que se pode. uma pena. tanta pena. era Abril. estava a atravessar um periodo muito mau. ligo ao andré. nuno preciso mesmo de estar contigo. e eu tambem. juntamo-nos por Lisboa. excitados por estarmos juntos e por podermos desabafar as coisas que nos vão na alma. as coisas que nos incomodam. as nossas penas. o meu pai vai morrer nuno. o meu pai vai morrer nuno. e não sei o que dizer. tento relembrar a ultima vez que o vi. na sunset. tinha que ser. acho que a primeira vez que o vi foi lá tambem. sempre alto. muito alto. talvez o mais alto. sempre educado. elegante. as melhores máscaras. veneza nunca esteve tão perto. alto. o mais alto de todos. alto não. elevado. o mais elevado de todos. elevação. cabeça no sitio. simpatia. e sobretudo elegância. quem seria tal senhor. um Senhor. volto à noite que me contaste. . . o meu pai vai morrer nuno. mais cedo ou mais tarde. eu tento reagir e dizer que os medicos às vezes se enganam. e na verdade enganaram-se. . . dois anos dizias tu querido andré... entro no elevador com estas conversas todas na cabeça. lembro-me de olhar nos teus olhos e tu com as lagrimas a ponto de cair, mas que nunca cairam, dizias - nuno já investiguei e li, o meu pai vai morrer... tinhas razão andré. tinhas infelizmente razão. Na sunset era sempre o mais elevado de todos. e queria que assim fosse lembrado. com elevação. o teu pai andré enchia o espaço por onde andava. é a melhor definição que posso encontrar. enchia em altura e largura. a alma. não era o olhar docil ou os movimentos brandos, era a elegância. nao saio desta palavra. elegância. tinhas razão andré. Acho que chovia lá fora. o carro com o carter furado. que se foda o carro. tenho um amigo a dizer-me que o pai vai morrer e o meu pai aos berros por causa do carro. que se fodam os carros se tenho uma amigo meu a dizer.me que o pai vai morrer. e ainda por cima tinha razão. o carro aí está, arranjado com peças novas anda e bem. O pai dele morreu. desço ao piso zero. saio de casa. abrigado. faz frio e chove-me na cara, não procuro abrigar-me. as lagrimas salgadas confudem-se com as gotas doces que caem do céu... os olhos do andré...nunca cairam... as minhas, caem. as do andré nunca chegaram a cair. sempre dizia depois de se abrir por um minuto que fosse - "mas eu nao quero falar muito disso". eu sempre lhe tentei convencer que às vezes os médicos enganam-se. . . e enganaram-se, nem um ano durou. nem uma mais presença elegante eu vi. cumprimentava-o no rossio com um olá à distância. as vezes somos crueis porque temos tanta pena das pessoas que o que fazemos é dizer à distancia um adeus. minto, uma vez cheguei.me perto. ía com a minha mãe. e motivamo.nos a ir mais perto e dizer um olá ao lado. cara a cara. Ola Senhor furtuoso. Chamou princesa à minha mãe. nunca tinha ouvido um homem ser tão justo com a minha mãe. de facto é uma princesa. olá e adeus. todas as outras vezes disse adues à distancia... como se nos fossemos despedindo aos poucos. aos poucos custa menos. o andré tinha razão. o teu pai morreu. todo este céu. todo esse céu. guardo para si o final... um abraço e que agora não sofra mais. porque apesar de tudo nunca deixará de ser aquilo que era na primeira vez que o vi. elevado. o mais elevado de todos. que o céu lhe trate como merece. elegante e elevado.

segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

vivo com isto. a bem ou a mal

vive-se com isso. ou bem ou mal. morreu ontem no seu apartamento. sozinho. por certo que estaria sozinho.  os maiores defeitos de um ser humano fazem-se, cometem-se quando estamos sozinhos. sozinho ninguem me julga. julgo-me depois eu. mas antes erro. actuo, destruo-me um pouco mais. eu sei destruir-me sempre que quiser. e sei que destruir-me não custa mais do que ficar em casa. lá fora sempre há mais vida que cá dentro. em madrid nao faço nada. toco. toco menos porque nao tenho piano. refiz uma musica linda que tinha há já 3 anos.  toco menos que devia. toco mais sempre que o tenho presente. não passo de amanha. amanha compro um piano. prometo-me. faça sol ou chuva ou neve. A neve que me salvou hoje. hoje decidi escrever mais. vou relatar isto que me passa. estas duvidas sobre o que aí vem. tenho tédio e isso não pode deixar de ser interessante de ler. demorar 15 minutos num percurso que se pode fazer em dois ou três... demorar 5 minutos a sair do carro. . . bem desta vez foi porque nevava e na rádio tocava por sorte do destino o chris isaak. nunca se pode abandonar o chris isaak. por muito que nos custe. nunca se pode abandonar tal perfeição, wicked game... ainda por cima a nevar. há horas felizes. no meio de tanto tédio acredito que foi o destino que me fez conduzir 15 minutos num percurso que se pode fazer em dois ou três... todos os dias pergunto-me se há algum jogo para ver. no dia 1 de janeiro prometi que lia um livro por semana e ouvia um disco por dia. até agora falhei redondamente. que se foda o reto. hoje neva lá fora e dei um rumo à minha vida. vou escrever mais e comprar um piano. assim acho que a neve ficará marcada para sempre aqui. aqui vive-se com isso. a bem ou a mal. os maiores defeitos de um ser humano fazem-se, cometem-se quando estamos sozinhos. . . lá fora neva, aqiui soa uma musica bonita e eu desligo. até já. voltarei com um piano no braço e a alma cheia de notas por fazer.