segunda-feira, 15 de junho de 2009

Casa Nova

uma casa nova. novinha. com quartos de banho separados. eu e as minhas coisas. tu e as tuas. nós e as nossas. as nossas coisas. a nossa casa nova. nossa casa nova. nova casa com paredes suaves e cores lisas. sabes que gosto de me deitar no quarto ou na sala e ouvir a música ao fundo e em frente a todos os sons, quase em frente ao meu respirar, as crianças lá em baixo que brincam. estão numa piscina não muito grande. ouvir as suas vozes pequenas em tão alto som faz-me acalmar. lembro-me do convento de freiras onde a minha mãe me deixava. tínhamos bibes de várias cores. nunca percebi a hierarquia bibe, mas o que me interessava não eram os mais velhos ou os mais novos. o que eu gostava era da sesta pela tarde. mesmo sem sono dormia a ouvir os outros meninos a brincar na rua. acalmava-me o som das suas alegrias. quando somos novos tudo é tão mais simples. guardamos comida nos bolsos sem pensarmos em mais nada. gritamos e corremos e saltamos no ar sem objectivo algum. ser menino. ter à frente o mundo e deixar de pensar nisso. ter à frente uns olhos lindos e não querer saber se existem mais olhos no mundo. ser criança deve ser a única experiência  impossível que gostava de repetir. aqui na casa nova oiço os meninos lá em baixo e não penso em mais nada, nem em mais olhos, nem em mais musicas que não me saem, nem nos acordes de piano que me imagino tocar, nem na estética de discos, nem em sons novos, aqui deitado sou eu apenas eu quando era mais novo.  nunca entendi a hierarquia bibe. sou eu. és tu. temos quartos de banho separados e dormimos juntos. 

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