segunda-feira, 8 de junho de 2009

não me vejo assim.


aqui soa o mesmo piano que sempre me arrepiou. aqui soam as notas. com o seu tempo. um dia gostava de fazer um disco assim. daqueles que se compram pela capa. um dia. um dia de hoje que passa a seguir ao de ontem que foi igual ao de hoje que foi igual ao outro que passou faz dias. os dias iguais. iguais. iguais. igual. eu igual. eu igual... anos assim. sem fazer aquilo que quero. sem conseguir realizar aquilo que quero. ou sem saber o que mais quero. hoje vi duas bandas em palco. ontem vi uma. não me vejo ali naquele palco que há uns anos toquei. não me vejo com amigos ao lado a sorrir uns para os outros. não nos vejo já ali. não nos vejo já ali de novo juntos. não nos vejo. não vos vejo ali a sorrir. não me vejo a sorrir para quem não gosta de sorrir. não me vejo. não me vejo na idade que queria ter. não me vejo nas bandas que oiço e que sonhava ser. não me vejo onde queria estar. não me vejo nem me sinto a sorrir. e as cordas que entram e o piano que me arrepia. e aquilo que eu não sou. e aquilo que eu não sei ser. e os sorrisos que nunca mais vão ser os mesmos. sou músico. vejo as coisas de maneira diferente... ou talvez não, apenas as olho duas vezes antes de desviar o olhar. não sou artista, vejo é as coisas de vários prismas, penso nelas, nos nomes, nas cores, nos meus nomes. naquilo que eu penso poder escrever sobre. há dez anos atrás estava a tocar na aula magna em lisboa pela primeira vez. tudo era diferente. não tinhamos nada mas erámos mais sorrisos. e lágrimas que caíam enquanto me abraçava ao meu pai. nunca me vou esquecer da força do momento exacto que tinhamos conseguido. aquele ano de 1999. dez anos. dez. dez anos. hoje aqui estou a pensar nos sorrisos que já não entendo não existir. hoje penso. de vários prismas. hoje já não sou aquilo que chorava há dez anos atrás. hoje já não vale a pena chorar. se morrer alguem sim choro se não hei-de regressar a casa com o amargo de boca caracteriístico de quem não se vê naquilo que queria ser.

1 comentário:

Anónimo disse...

Ok, isto é estranhissimo mas apareceu-me um podcast seu/teu e estou curiosa para saber quem é/és...Os textos que diz entre a musica e que aqui estão publicados sao seus/teus?

Patrícia