domingo, 5 de maio de 2013

A mãe que és. A mãe que vais sempre ser. A mãe que és. A melhor mãe que és. Acordas cedo. uma hora mais cedo que em Portugal mas talvez acordes ao mesmo tempo. a minha mãe nunca se deixa dormir até tarde. Tu também não pois ao fundo, mesmo a dormir profundamente ouves os lençois pequenos e a cama com grades brancas preenchidas com autocolantes inadvertidamente colocados e sem ordem especifica a mexer-se aos poucos... minutos depois ouve~se a voz, fina, sentida, pequenina. mãmã. mãmã. mãmã. mãmã

mãmã...

acorda sempre cedo. no inicio com um robe azul bébé, grande, não sei precisar o tecido. quase sempre arruma a cozinha. há sempre coisas para fazer. varrer o chão.  pensar em nós. pensas sempre em nós, tenho a certeza. em solidão com os seus filhos. minha querida mãmã....

acorda sempre cedo. no inicio tentas sempre que consiga dormir um pouco mais. na cama que é mais que tua. apenas e só tua. no quarto que é cada vez mais teu e só teu. 

A mãe que és. num dia pela noite. o meu egoismo talvez tenha sido demasiado quando ao fundo te ouvia com dores, e tu, que nunca querias interromper pois sabias que aquilo era sempre mais importante que tudo. é hoje. talvez seja hoje. sair de casa com tempo. chamar o elevador... 

O que fizémos quando esperavamos pelo elevador? demos um beijo, olhámos os olhos um do outro? O que fizémos quando fechámos a porta... a ultima vez que fechamos a porta da casa sem termos deixado ninguem para trás. a ultima vez que saímos da casa só os dois. 
...o que dissémos um ao outro enquanto o elevador chegava?
Entramos no carro. talvez seja hoje. entrar num quarto com paredes de tom quente, há um sofá castanho de pele onde me sento mas que não me deixo acomodar. tenho sono mas não tenho sono. talvez seja hoje. o médico chega. é hoje mesmo. olhamos um para o outro. o que dissémos mesmo sem dizer nada? é hoje. é hoje. regresso a casa. faço tudo a correr. tu deitada a olhar em frente. o que pensavas quando não estava. eu em casa a trazer tudo o que achava fazer falta... apago pela ultima vez a luz do quarto que era mais do que nunca o nosso quarto. a cama que era mais que nunca a nossa cama ficou vazia. intocável. fecho a luz do quarto que nunca pensei deixar de ser meu... 

saio de casa a correr. entro no quarto com calma. 

vejo as tuas costas. as mais bonitas do mundo. brancas. suaves, as mais suaves do mundo. as tuas costas cheiram tanto a ti. as tuas costas invadidas por uma linha milimetricamente desenhada. vermelha. uma linha de sangue cai, escorre pelo branco puro das tuas costas. brancas, as mais bonitas do mundo. uma linha de sangue... milimetricamente medida. uma linha de sangue. como se se tratasse de uma fronteira.... o principio e o fim de uma etapa. de uma era. de um amor a dois. 
o que dissémos um ao outro quando te viraste  e me viste. 

o que dissémos uma ao outro quando entrámos no elevador? os nossos olhos amavam~se tanto. mas tanto. mas tanto.
tanto
tão 
pouco a pouco deixo que uma lágrima escorra por dentro de mim. 

a linha de sangue. . .
passamos à frente. lua cheia. eu e tu. eu de verde tu não sei. luz fria. entramos sem nos daros conta do que tinhamos feito. o que dissemos um ao outro quando não havia volta atras? 

entramos e depois? depois fui eu e tu. e tu e eu. e eu e tu nos ultimos segundos antes de sermos eu, tu e ela. tu, ela e eu a chorar por saber que eras a melhor mãe que podia existir no mundo. eu a ver~vos. nao quis deixar que o momento fosse mais do que só teu. querida mãe. amo-te. eu, tu e ela. e depois? o que vem depois?

                                                                            eu a ver~vos...


chegar a casa. a nossa casa que abandonámos sendo apenas e só nossa... ao regresso perdemos um pouco a posse da propria casa. hoje a casa é dela, tua e minha de vez em quando. cada vez menos. aos poucos. eu... tu e só ela.

tu

ela

acorda à mesma hora que tu. em casa sozinha. pensa em nós. em mim e no meu irmão. tenho a certeza que pensa maioritariamente nisso. nas preocupações. deve pensar em que cidade andamos. porque não ligamos. preocupa-se por não estarmos ao lado. um dia vou ser como tu. mãe. mãe, não.
mãmã
mãmã
mãmã

minha mãmã. amo-te

o que dissémos um ao outro quando apanhamos o elevador na ultima semana?

dormi ou deixei~me dormir no sofá vermelho. aquele que carregámos os dois depois de uma viagem sem dormir desde Portugal. 
a nossa casa. a tua casa e a casa dela. 
saio ainda de noite. na cama que é só tua estava ela. do meu lado, virada ao contrario. com a cabeça um pouco suada. um beijo minha querida filha. 
no final digo~te uma frase que nao te lembras mas que foi das frases mais sentidas que alguma vez disse. a despedida do nosso mundo...

a distancia só nos vai matar mais.....

A mãe que és. A mãe que vais sempre ser. A mãe que és. A melhor mãe que és. Acordas cedo...
a melhor mãe do mundo és tu. lê bem e nunca te esqueças. 
a melhor mãe do mundo és tu. 
Afortunado eu que vivi um momento unico. tu e ela e o corpo cheio de sangue. meu e teu. 
Afortunado eu que assisti ao maior compromisso de amor da vida. tu e ela. e a minha vida mudou. 
A mãe que és. 
A mãe que vais sempre ser. 
A mãe que és...

Afortunado eu que sou pai de uma filha que tem a melhor mãe do mundo...


(recapitulation - john morris)

2 comentários:

Anónimo disse...

pouco a pouco deixo que uma lágrima escorra por fora de mim.
e outra
e outra
e outra
e outra
e outra
e
outra
e
outra
e
outra
e
outra


Anónimo disse...

Nuno, estou a passar pelo mesmo que tu. Encontro forças no que escreves, pois não há ninguem que consiga exprimir os sentimentos na escrita como tu. Vejo e revejo-me nas tuas palavras.
Estive a rever o DVD Fácil de Entender,são boas memórias e que me vão dando forças para enfrentar esta fase da minha vida. As tuas letras ajudam-me...1,2,3